quarta-feira, 29 de junho de 2011

E Shiva nos salvou

Amanhã embarco para o Peru, para a temporada de trekking e escalada, Cordilleira Huayhuash com escalada do Diablo Mudo, Tocllaraju - 6.032 e Chopicalqui - 6.354 metros. Estava em um jantar de despedida com minha esposa e lembrávamos de nossos quase seis meses de Nepal. Boas memórias. Rimos muito ao recordar de nosso trekking ao campo base do Kanchenjunga, terceira maior montanha do mundo, principalmente da viagem de Katmandu a Basantpur, de onde começamos a caminhar. Foram 24 horas em um ônibus local assustador. Chegamos a "rodoviária" local com o dia ainda escuro, a penumbra escondia o que nos esperava. Era um estacionamento lamacento cheio de latas velhas e lotado de nepaleses que mais parecia a Índia, desordem total! Todo o tipo de coisas eram embarcadas, vimos até uma moto sendo içada (por pessoas) até o teto do ônibus.       
Dufles e cargas devidamente instaladas, hora de embarcar, nosso prestativo sidar comprou assentos nobres, na primeira fileira. O ônibus era uma atração a parte, por fora ricamente pintado com figuras hinduístas e flores de lótus, na traseira um inacreditável letreiro: "horn please", sim lá eles gostam e pedem que as pessoas buzinem, mais tarde descobrimos o porquê, as estradas sinuosas têm apenas uma pista, mas são de mão dupla, ou seja, a buzina é um item de segurança que grita: estou aqui, pare e deixe-me passar. A decoração era completada por triângulos, sim, o que para nós é item de segurança, na versão nepalesa é enfeite. Eles usam pregados na frente dos ônibus e caminhões formando desenhos!
Mas o mais incrível era uma figura de Shiva iluminada no painel, com luzes vermelhas, verdes e azuis intercaladas como uma fonte de praça de cidade do interior, antes de partir o motorista acendeu um incenso e fez suas preces. Por via das dúvidas fizemos nossa silenciosa reverência ao homem-azul... Tomamos nosso Bonine (Dramin) para apagar, afinal a viagem era longa e a cadeira do tamanho de uma criança de 8 anos, sem contar a excesso de passageiros e umas moças faceiras que achavam que o braço e o encosto de nossas cadeiras estavam disponíveis para se alojarem.
Devidamente dopados, dormimos, acordo já escuro novamente, meio assombrado pela figura de luzes coloridas no painel. Quando olho para fora uma forte neblina limita a visão a uns 2 metros, observo o motorista que com um semblante plácido parecia dirigir na Bandeirantes, quando um clarão vem em sentido oposto e buzina, tirando uma fina terrível do ônibus. Decido que se for para morrer é melhor que seja dormindo e apago novamente. Sou acordado pelo nosso sidar. Feliz por ter chegado descubro que uma ponte havia caído na última monção, teríamos que cruzar o rio a pé sobre um emaranhado de bambus e pegar outro ônibus que ficou ilhado do outro lado. Lembrando disso agora me esqueço do desconforto e das apreensões. E penso em minha viagem de amanhã.
O Nepal e o Himalaia são maravilhosos, mas o Peru é um parque de diversões de montanha do primeiro mundo. O ônibus que liga Lima a Huaraz tem dois andares e assentos de primeira classe de avião, serviço de bordo, cobertor e travesseiro, com direito a DVD de filmes recentes e a fosforescente Inka-cola e todos vão sentados. Sem paradas, em 8 horas chegamos.
Para quem não conhece o Peru, recomendo. Montanhas belíssimas, povo amável, comida maravilhosa e perto de casa! Amanhã há esta hora estarei em um dos meus destinos de montanha prediletos.
Até agosto!




        

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